domingo, 12 de maio de 2019

A Nova Ordem





Em Assalto ao Poder, quarto capítulo de A Nova Ordem Estupidológica, o escritor traça perfil que faz pensar no que se propaga da política nos últimos tempos. Trata-se de radiografia au point. No segmento Pressupostos de base da Ciência Política Estupidológica, o autor menciona sete, entre os quais aquele em que se mede a capacidade do político obter votos, “… maquilhados e, numa boa parte dos casos, transaccionáveis”. No número três, Os estúpidos são donos da Verdade e proprietários da Realidade, comenta “Esta é, sem dúvida, uma das razões pelas quais eles preferem largamente vencer um debate a conquistar uma vitória para a Verdade (seria ridículo curvarem-se dessa maneira perante uma subalterna sua)”. O item A gestão do poder é um jogo: o jogo do poder tem a seguir Quando não podemos vencê-los, é preferível juntarmo-nos a eles, em que o psicólogo clínico traduz essa tendência de se encontrar “… da parte de muitos políticos estúpidos, uma habilidade excepcional para, antes de serem derrotados, se aliarem ao partido, movimento, ideia ou pessoa que iria derrotá-los. Convenhamos que isto é mais saudável do que a opção dos inteligentes que nunca se rendem perante a estupidez das ideias e procedimentos mesmo quando elas têm por si a força dos tempos e das ações eleitorais”. Verifica-se que o professor joga por vezes com a ironia, a justificar essa “era da estupidez”.
No subcapítulo Perfil do Político Estúpido Elegível, considera o autor seis itens aos quais se adequa: flexível; magnético, carismático: “… não esqueçamos: o carisma de um estúpido depende da sua aptidão para mobilizar, galvanizar e encaminhar populações com as armas da estupidez”; esgrimista verbal: “… a relação com a Verdade ou a Realidade não é importante devido aos direitos políticos sobre elas”; bom vendedor; bom líder.
Outro segmento é dedicado à Propaganda Eleitoral, onde encontramos duas menções a sedimentar o discurso: “… a arte do político estúpido assemelha-se, em parte, à do ilusionista: trata-se de fazer as pessoas acreditarem que está a acontecer aquilo que, na realidade, é bem outra coisa.” E continua: “… os únicos objectivos dignos da Nova Ordem Estupidológica são a conquista e a manutenção do poder – pagando por isso, os preços que haja a pagar; ora, nos dias que correm, a inteligência está tão desvalorizada que até sai barato aos políticos sacrificarem os valores dela…”
Nesse capítulo do Poder, aborda a Acção Governativa. Para a perpetuação dos governantes, o autor fundamenta serem necessários: consolidar o poder; convencer o público de que os seus interesses estão a ser objeto de um zelo desvelado; justificar cuidadosamente as decisões tomadas; afastar do poder as pessoas inteligentes: “Além disso, mesmo quando estão dispostos a percorrer os caminhos do acesso ao poder, os inteligentes não estão dispostos a optar pelos atalhos ditados pela estupidez e, com isso, perdem a vez face a estúpidos que, graças a esses atalhos, chegam lá mais depressa”. Sobre a convivência, observa que os políticos “… raramente se mostram tolerantes, colaborantes ou complementares frente a outros políticos – o que seria inteligentemente possível se o objectivo da campanha fosse eleger o melhor e, sobretudo, as melhores ideias governativas face a uma realidade socio-económica e cultural devidamente investigada”. Crítico, comenta: “… não se vence uma eleição com preocupações altruístas e desinteressadas (que levam imediatamente os estúpidos à desconfiança)”. Nesse critério avaliativo, enfatiza: “… um bom comando anti-inteligente na política deve, antes de tudo, assegurar-se do uso dos meios que forem precisos para atingir a finalidade de subir ao poder e ficar lá”. Conclui neste capítulo: “Obviamente, uma das preocupações dominantes consiste em conservar as pessoas inteligentes fora dos partidos”. Neste ano em que as eleições batem à porta, as considerações de Vitor Rodrigues não estariam a ter parentesco com o que se presencia? 

2 comentários:

  1. As considerações do senhor Vitor Rodrigues acertam inteiramente na mouche,e a propósito do que se presencia por cá: "Do povo às “elites” (desculpem), cada elemento da presente história expõe o desconchavo pátrio, que se não fosse triste nos inspiraria a vencer o sr. Berardo num campeonato de gargalhadas. Há o pormenor de, na comissão de inquérito, o sr. Berardo ter sido interrogado pela filha, e confessa admiradora, de um assaltante de bancos reformado. Há o génio económico dos comunistas de PCP e BE, que recomendam a nacionalização total da banca para evitar as chatices provocadas pela nacionalização parcial da banca. Há a reacção peculiar do PSD, que atendeu à cartilha e se concentrou nos ataques ao sr. Berardo sem tirar uma ilaçãozinha do que o sr. Berardo significa. E há, principalmente, a condução discreta da história para a essencial temática das comendas.
    No espaço que uma televisão lhe concede, o advogado barra empresário barra comentador barra fervoroso apoiante do “eng.” Sócrates e do dr. Costa, José Miguel Júdice, ameaçou devolver uma comenda se não retirassem ao sr. Berardo a dele. Num ápice, meio mundo começou a discutir a remoção da comenda, ou comendas, de modo a transformar estas no único ponto de interesse do caso. O caso, que envolve esquemas de trafulhice dignos de orgulhar o sr. Lula, reduziu-se repentinamente a uma polémica alusiva às condecorações que o Estado espalha pelos ilustres. Não importa que os ilustres em questão, de “revolucionários” a rematados patetas, incluam uma quantidade de gente sem serventia palpável. Nem importa que, por definição, o regime que entrega os penduricalhos se confunda frequentemente com os respectivos destinatários. Importa é lançar a ideia de que, mal sumam os penduricalhos do sr. Berardo, Portugal entra nos eixos. Claro que se os portugueses acreditarem nisto, acreditam em tudo. Acontece que os portugueses acreditam em tudo – e não ligam a nada. É deles que o sr. Berardo se ri. Com razão."(do artigo "O riso do senhor comendador" no Observador dia 18-05-19)

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  2. check https://medium.com/@Arierbos/os-arquitetos-do-mal-global-bc48fe1da2ec

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